terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

"Contos Para Pensar" de Jorge Bukay.


"Esta é a história de um homem a quem eu definiria como um pesquisador.
Um pesquisador é alguém que busca; não necessáriamente alguém que encontra.
Tão pouco é alguém que, necessáriamente, saiba o que anda a buscar.

É simplesmente alguém para quem a vida é uma busca.

Um dia, o pesquisador sentiu que deveria ir até á cidade de Kamir.
Tinha aprendido a respeitar rigorosamente aquelas
sensações que vinham de um lugar desconhecido
de si mesmo.

Por isso deixou tudo e partiu.
Depois de dois dias de marcha pelos caminhos
empoeirados, avistou, ao longe, Kamir.

Um pouco antes de chegar à povoação, chamou-lhe
vivamente a atenção uma colina à direita
da azinhaga.

Estava atapetada de um verde maravilhoso e tinha
uma grande quantidade de árvores, pássaros
e flores encantadores.

Estava inteiramente rodeada por um pequeno muro
de madeira brilhante.

Um portalzinho de bronze convidava-o a entrar.

Sentiu logo que o povoado lhe fugia da memória
e sucumbiu à tentação de descansar por
um momento naquele lugar.

O pesquisador ultrapassou o portal e começou
a caminhar lentamente por entre as pedras brancas
que estavam dispostas ao acaso por entre as árvores.

Deixou que os seus olhos se pousassem como borboletas
em cada pormenor daquele paraíso multicolor.

Os seus olhos eram os de um pesquisador e foi talvez
por isso que descobriu aquela inscrição sobre
uma das pedras:
Abdul Tareg, viveu 8 anos, 5 meses,
duas semanas e 3 dias.

Ficou um pouco surpreendido ao dar-se conta de que
aquela pedra não era simplesmente uma pedra:
era uma lápide.
Sentiu pena ao pensar que um menino de tão
tenra idade estava enterrado naquele lugar.

Olhando á sua volta, o homem deu-se conta que
a pedra ao lado também tinha uma inscrição.
Aproximou-se para a ler.
Dizia: Yamir Kalib, viveu 5 anos,
8 meses e 3 semanas.

O pesquisador sentiu-se terrivelmente comovido.
Aquele lindo lugar era um cemitério e cada pedra
era uma campa.

Começou a ler as lápides uma por uma.
Todas tinham inscrições semelhante:
um nome e o tempo exato de vida do morto.

Mas o que o enleou de espanto foi comprovar
que aquele que tinha vivido mais tempo
mal ultrapassavaos onze anos.

Paralizado por uma dor terrível, sentou-se e
pôs-se a chorar.

O encarregado do cemitério passava
por ali e aproximou-se.

Observou-o a chorar durante algum tempo
em silêncio e perguntou-lhe logo a seguir
se chorava por algum familiar.

-Não, não é por nenhum familiar- disse o pesquisador.
- Que se passa nesta povoação?
Que coisa horrível acontece nesta cidade?
Porque é que há tantas crianças enterradas neste lugar?
Qual é a maldição horrível que pesa sobre estas pessoas,
que as obrigou a construir um cemitério de crianças?

O ancião sorriu e disse:
- O senhor pode tranquilizar-se.
Não existe uma tal maldição.
O que acontece é que temos um costume antigo.

Vou contar-lhe:

"Quando um jovem completa quinze anos,
os seus pais oferecem-lhe um livrete como este
que tenho aqui, para que o pendure ao pescoço.

É tradição entre nós que, a partir deste momento,
de cada vez que alguém desfrute de alguma coisa,
abra o livrete e anote nele:

À esquerda, o que foi desfrutado.
À direita, quanto tempo durou o prazer.

Conheceu a sua noiva e enamorou-se dela.
Quanto tempo durou essa paixão enorme
e o prazer de a conhecer?

Uma semana?
Duas?
Três semanas e meia?
E depois, a emoção do primeiro beijo.
Quanto durou?
O minuto e meio do beijo?
Dois dias?
Uma semana?

E a gestação e o nascimento do primeiro filho?
E as bodas dos amigos?
E a viagem mais desejada?
E o encontro com o irmão que
regressa de um país longinquo?

Quanto tempo durou o desfrutar
dessas situações?
Horas?
Dias?

Assim vamos anotando no livrete cada momento
que desfrutamos em intenso prazer.

Quando alguém morre, é nosso costume
abrir o seu livrete e somar o tempo em
que sentiu prazer para anotarmos
sobre a sua campa.

Porque é esse o que conta à nós
o único e verdadeiro
tempo VIVIDO.!!"

...embora para muitos seja loucura, blogar para mim é como sacerdócio, rss, e mesmo
com o meu amado "compiuter" na UTI para ser tratado de uma gravíssima virose,
eis-me aqui em máquina alheia, digamos que não tão alheia assim, porque é o PC
do meu marido que como vocês sabem, está se recuperando de um AVC,
e por enquanto nem quer saber de internet...
sendo assim, tenham paciência comigo, que loguinho
colocarei minhas visitas em dia.
adoro vocês!
beijossss

25 comentários:

Paula Barros disse...

Faz sentido, faz sentido. Vou pensar sim. E melhor é ir logo contando o meu tempo de vida. Acredito que ainda estou na primeira infância, engatinhando.


abraços

Franzé Oliveira disse...

Vivemos momentos felizes. E são tão poucos. Acho q devemos aproveitar mais nosso tempo. E quando for bom aproveitar o máximo, viu? Belas palavras de Jorge Bukay. Bjos com ternura. Passe no meu blog. Faz tempo que vc não visita ele, né? (risos).

RENATA CORDEIRO disse...

Esse conto é oriental, não? O que é "vivido" para o povo de onde provém esse conto? Porque eu vivi horrores na minha pouca vida. Talvez para muitos não sejam horrores, pois aconteceram a mim e não a eles. Isso conta como "vivido"? Ou só os momentos felizes, alegres? Todo dia é vivido em sua plenitude, o que quer que estejamos fazemos. Se o meu corpo pede para dormir e não para ir ao cinema, eu vivi enquanto dormi, eu desfrutei do sono, que me supriu uma necessidade. Se eu fosse ao cinema, provavelmente seria um martírio, eu nada desfrutaria do filme. Mesmo assim, teria vivido, algo em torno de duas horas, momentos terríveis.
A questão é: o que se aplica ao Oriente, se aplica ao Ocidente? Culturas e histórias distintas não contam?
Beijos, Vivi,
Renata

Vivências & Experiências disse...

Ja vivi belos e eternos momentos tudo em seu determinado tempo que na verdade esse tempo pode ser eterno na vivencia de pouco tempo, por isso o melhor mesmo é aproveita-lo o maximo. parabens.

Uma otima noite pra voce.

bjcss

Joshuatree disse...

Venho anotando há muito tempo, todo o prazer sentido aqui.
Tens o dom de me encher de alegrias, de embaçar meus olhos com a ternura que povoa as escolhas dos teus textos.
Sempre bem vinda, Alma Nua.

Obrigado minha amiga.

Branca disse...

E viva os momentos felizes que são os que realmente contam...


Ótima semana pra vc,
bjos!

Gilbamar disse...

Emocionante, interessante e inteligente. A merecer todas as congratulações.

Nós, os seus amigos, estamos sempre à disposição quando o computador voltas às boas com você. E também quando usar o do seu marido para nos visitar e comentar.

Fraterno abraço do amigo Gilbamar.

Daniel Savio disse...

Texto lindo e que eu não conhecia...

Sem problemas senhorita Vivian, a gente espera a sua visita tranquilamente.

Fique com Deus, menina Vivian.
Um abraço.

Pelos caminhos da vida. disse...

Tem selinho pra vc amiga.

beijooo.

Tata disse...

Oi Vivi,

Espero que volte logo!!
Adorei esse texto que vc postou!
Não conhecia!!
E faz muito sentido!
bjinhos saudosos

gabyshiffer disse...

é amiga, diz o ditado popular que o que vale na vida é a vida que vivemos
Tá certo né
O melhor é fazer de tudo com um pouco de juíso e fica tudo bem
que vc tenha uma boa noite
Beijos

Ester disse...

Mais do que essa linda história, fiquei comovida pelo fato de vc postar em condições adversas!

Acredito mesmo no seu sacerdócio, sei que suas mensagens tem endereço certo, sempre saimos daqui carregando um pouco do seu mel,

Que aprendamos a contar os nossos dias pelo prazer que ele nos traz!


beijinhos saudosos *.*

Anônimo disse...

Paciência consigo? Minha Amiga,qdo
a visito tenho alegria,tenho inspiração q. o seu blog me dá!
Penso!Exercício valioso!
Melhoras para seu marido.
Beijoo.
isa.

Anônimo disse...

Oi Querida!!
Primeiramente melhoras á seu marido viu!!
Que texto interessante !!
Lendo-o vagarosamente e atentamente percebi o quanto esse texto é verdadeiro!!
Realmente nosso tempo de vida é a soma de nossos momentos intensos e isso que realmente deveria contar!!

Beijoooosssssss Querida!!!

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

E eu adoro você!
texto magnífico você nos coloca diante dos olhos. Parabens.
estou de volta .
beijos

Eu disse...

Fantastico!
Um texto inteligente e comovente!

Ao marido, melhoras!
Ao PC, que sare logo da virose!
A você, meu eterno carinho e admiração!

Beijos

Nela disse...

QUERIDA ví, que belos olhos azuis que me recebem logo quando entro, que lindos amiga e sabe a hístoria faz sentido...e dá para pensar mesmo.Amiga o que é de nossos maridos é nosso rsrs e vice versa. A recuperação do marido eu desejo e as "melhoras" do pc, beijos ternos.

Quintal de Om disse...

Emocionante!

Me fez recordar tanta coisa!

beijos em seu coração

tesco disse...

Ainda bem que esse costume não apareceu por aqui. Se não eu estaria com uma bíblia pendurada no pescoço. Sou velho sim, as recordações que tenho são, quase sempre, de coisas boas, até das coisas amrgas, como o AVC que sofri em 2000, só trago as boas lembranças. Aliás, meu post de hoje foi justamnete sobre evocações.
Para Renata Cordeiro fica o lembrete, o importate é a lição: O que conta é o que aproveitamos da vida, não o que a vida aproveita da gente.
_Beijos, e saúde pra todos.

FRAN "O Samurai" disse...

Oi querida!

Boas melhoras ao seu marido!

Esse texto foi profundo e pensante! Poxa, pude refletir muito sobre o texto e sobre meu tempo vivido. Aproveito desde criança e acredito que tenho vários anos bem vividos. Hehehe. Realmente interessante pensar assim.

Gostei.

beijos de seu pupilo.

Fabi disse...

a VIDA é um aprendizado constante, por isso devemos vive-la da melhor maneira possível.
Esse conto q vc colocou realmente nos leva a pensar muito

bjs linda

Mimirabolante disse...

VIVI
Também não conhecia o texto !Lindo!Viver é um dom que acredito poucos tem !Uma arte !Vc tem !Melhoras ao marido....ao pc....rsrsrs....aguardarei vc o tempo que for.....bjcas....

"Atre" disse...

"dizem" que o melhor da conquista é a busca...O caminho até chegar nela.

acho que a vida é assim também.

Que as boas energias passem pela sua casa pra trazer saúde...

bjo

xistosa, josé torres disse...

Primeiro a saúde.
Que tudo caminhe devagar, é o normal, as doenças surgem de supetão, mas depois só lentamente é que nos abandonam.

Tantos anos ao cimo da Terra e se somarmos tudo, só 8 ou 9 anos de felicidade?
A vida será assim tão curta?
Não quero contrariar, mas penso que são contas talvez feitas ou somadas á pressa.

Um abração de amizade deste lado do "rio"

Arábica disse...

Vivi, minha querida,

escrever é uma espécie de sacerdócio, terapia da alma, enontro com a nossa essência.


O blog é um veículo que nos permte conhecer os outros por dentro e também, nos dar a conhecer aos outros.

Quando não escrevemos e pousamos apenas os olhos numa foto que oferecemos ao olhar dos outros,
as músicas que nos vão captando os sentidos, os lugares de que no vestimos.


Talvez o blog, para muitos de nós, seja o tal livrinho, onde anotamos nossas horas de prazer e nosso tempo de busca.


Rápidas melhoras do seu marido.

Um abraço daqui de mim, para ti.